É câncer! Como falar com as crianças?

 

Conversar com uma criança a respeito de um familiar que está com câncer não é simples. Mas ela tem o direito de saber a respeito de qualquer assunto que afete a família da qual ela faz parte.

 Mesmo que nada seja dito, os filhos percebem quando algo não vai bem. O problema disso é que, se eles não sabem do que se trata, só poderão contar com a sua própria imaginação para tentar explicar o que está acontecendo. E as fantasias podem ser ainda piores (mais sofridas) do que a realidade. E mais: a criança poderá saber da verdade por outras pessoas, sem querer, e ouvir uma versão distorcida da realidade.

Quando a família conta a verdade, a criança tem a chance de fazer perguntas.

E receber conforto quando sentir medo. Não dizer nada por sentimento de proteção pode até ser bem intencionado, mas é enganoso. Por mais que se queira, não há como proteger os pequenos das tristezas. Pelo contrário, podem-se compartilhar os sentimentos.

Então, como proceder?

  • A notícia deve ser dada por uma pessoa próxima, de confiança.
  • Se no decorrer da conversa essa pessoa chorar, não há com o que se preocupar. A criança se sentirá à vontade para chorar também, se desejar.
  • Pode até parecer conveniente ir deixando essa conversa para depois, mas isso não é verdade.
  • Conte o que você sabe, de forma objetiva, em uma linguagem que a criança possa entender.
  • Se ela fizer perguntas e você não souber responder, diga exatamente isso, que não sabe, e convide-a a procurar juntos a resposta. Ou garanta que assim que tiver mais notícias, a informará.
  • Respostas mentirosas ou que não dizem nada de concreto costumam desencorajar outras perguntas e podem levar a criança a imaginar algo muito pior do que a verdade.
  • Não se faça de forte. Não adianta revelar a verdade e esconder os sentimentos.
  • Converse várias vezes sobre o mesmo assunto. A repetição permite à criança o esclarecimento das dúvidas e dos mal-entendidos.
  • Respeite os sentimentos e opiniões da criança e incentive-a a falar sobre o que está pensando e sentindo.
  • Aceite os sentimentos da criança dizendo-lhe que é normal chorar, sentir tristeza, raiva e medo. Isso dará a ela a oportunidade de extravasar seus sentimentos.
  • Algumas vezes a criança sabe de alguém que morreu de câncer. Como consequência, ela tem medo de perguntar se a pessoa da família que está doente vai sarar, pois teme a resposta. É importante que ela saiba que há diferentes tipos de câncer e que o que acontece a uma pessoa não precisa, necessariamente, ocorrer com a outra.
  • A criança poderá tentar desafiar as regras já estabelecidas em casa e na escola. Imponha limites.
  • Procure fazer com que ela compreenda que situações desconhecidas e mudanças em sua rotina poderão ocorrer e que, juntos, saberão lidar com elas na medida em que forem acontecendo.
  • Na medida do possível, tente fazer com que a vida da criança transcorra normalmente. Manter suas atividades sociais e escolares pode ajudar a entender que, apesar das adversidades, a vida dela continua, sem culpa.

 

O mais importante não é “falar tudo” ou “ter todas as respostas”, e sim mostrar-se como uma pessoa em quem se pode confiar. Mostre confiança e esperança frente à doença e seus tratamentos – o que não é uma enganação, pois o índice de cura atual é uma boa referência.

Se achar necessário, procure um psicólogo para ajudar a criança a passar por essa fase.